quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um pouco de filosofia


AS CINCO VIAS DE S. TOMÁS DE AQUINO

As Cinco Vias de S. Tomás para provar a existência de Deus partem da mais elementar experiência humana: do movimento, da causalidade, da fragilidade (contingência) das coisas, dos graus do ser, da finalidade que se reconhece no mundo.
O seu autor conseguiu colocá-las para lá das limitações da ciência sua contemporânea. Todavia não se pode ignorar que elas assentam numa linguagem filosófica medieval de raiz aristotélica e por isso seria ilusão pensar que o leitor comum lhes percebe de imediato todo o sentido.
É importante poder provar a existência de Deus a partir da realidade do mundo, pois isso significa que o mesmo Deus deixou sinais de si na sua obra: é isso que tem levado todos os Santos a cantar as maravilhas da criação. Lembre-se o Salmo 19, que proclama que «os céus cantam a glória de Deus» e outros textos bíblicos como o Benedicite, o Canto do Sol de S. Francisco de Assis e textos de tantos outros homens e mulheres que se extasiaram na contemplação das maravilhas criadas.
Na Internet, é fácil encontrar reflexões sobre as Cinco Vias em diversas línguas. Veja-se nas seguintes hiperligações:
Português
Inglês
Espanhol
Francês
Alemão


O ABSURDO É ABSURDO

A aceitação de uma Causa e de uma Origem misteriosos é para mim mais razoável e satisfaz-me mais do que a admissão de uma misteriosa ausência de causa e de origem, ou que a afirmação, igualmente misteriosa, de uma necessária e insuperável ignorância de toda a causa e de toda a origem...
Vem a ser o que afirmava o meu inolvidável amigo E. Mounier: "O Absurdo é absurdo".
Para o dizer com palavras de outro grande amigo meu, J.M. Capdevila, sinto-me inclinado a preferir os Mistérios de Luz aos Mistérios de Trevas.
Por isso, é a mesma razão, e não só a Fé, que, no momento de decidir sobre o fundamento da Realidade, me leva a admitir uma misteriosa mas positiva Existência absoluta, e recusar um vazio caótico que seria, em definitivo, igualmente misterioso.


AH, PERANTE ESTA ÚNICA REALIDADE, QUE É O MISTÉRIO!...

...................................... por Álvaro de Campos

Neste fragmento dum poema do heterónimo de Fernando Pessoa Álvaro de Campos encontra-se como que uma experiência mística de Deus como Absoluto, apesar de algumas palavras parecerem indicar outro caminho.

Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível — a de haver uma realidade,
Perante este horrível ser que é haver ser,
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
— Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles,
Se empequena!
Não, não se empequena... se transforma em outra coisa —
Numa só coisa tremenda e negra e impossível,
Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino —
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino,
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas,
De todas as vidas, abstractas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo,
Por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa!

Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim,
Com a substância essencial do meu ser abstracto
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultra-transcendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

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